Continuando nossa série de filmes
esquecidos pelo grande público, hoje trataremos de uma obra de argumento
fantástico, contudo de difícil acesso, a obra escolhida de hoje é COLOSSUS The Forbin Project ou COLOSSUS
1980, como foi chamado no Brasil.
Mas antes uma breve consideração,
por ser um filme de difícil acesso em 2020 traremos um apanhado mais completo
da obra com alguns spoilers, tudo para instigar a sua curiosidade caro leitor,
pois a sua maior beleza não está em suas características técnicas devido ao
lapso temporal de seu lançamento, mas sim em seu enredo rico.
Lançado em abril de 1970 temos um
enredo claramente inspirado no auge da guerra fria entre Estados Unidos da
América e a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, mas com um
ponto de vista e caminho diferente para a disputa ideológica, tecnológica e
armamentista entre capitalismo e socialismo.
Em uma breve sinopse, em meio ao
conflito entre EUA e URSS e o fundado temor de um cataclismo nuclear o governo
americano desenvolve um projeto secreto chamado COLOSSUS, que é uma rede de
computador inteligente desenvolvida no Monte Rushmore pelo Dr. Charles Frobin
(Eric Braeden) com a finalidade de controlar todo o arsenal bélico do país.
Contudo, após ser ativada e anunciada a inteligência americana descobre que os
soviéticos também criaram um super computador para seu arsenal e o seu nome é
GUARDIAN e apesar das respostas negativas da liderança dos países em permitir a
conexão entre os sistemas, as nações são colocadas em xeque por ameaças de
ataques nucleares pelos computadores que criaram para prevenir o fim da
espécie.
Desde o início o filme busca por
meio dos enquadramentos e das falas e atitudes do Dr. Forbin demonstrar a
grandiosidade de sua criação, deixando claro para a humanidade que COLOSSUS é
superior aos seres humanos em tudo por viver sob a lógica, contudo, desde a
primeira imposição de vontade da máquina se comunicando por meio de palavras em
uma tela na sala do presidente o sentimento que passa é de temor pela criação
ser maior que o criador.
Mesmo sendo um filme que na época
não teve um orçamento tão grande, principalmente por se tratar de uma produção
de ficção científica que era um gênero tratado como de segundo escalão e pouco
rentável, a sua produção é sublime, o clima e suspense criado pela interação
dos personagens quase sempre localizados em ambientes fechados e restritos
tentando planejar e se livrar do controle da “mão de ferro” de uma máquina que
vê e ouve tudo mesmo não possuindo um corpo físico gera uma grande sensação de
aprisionamento e claustrofobia.
Porém com toda certeza o ponto
mais forte do filme é observar a criação se voltando contra o criador. A forma
como COLOSSUS após estabelecer uma unidade com o sistema soviético GUARDIAN ascende
contra a humanidade, evoluindo e ampliando seu poder é demonstrada de forma
magnifíca e aos poucos no decorrer da trama. Em seu nascimento o sistema não
possuía forma, era manifestado apenas por meio de palavras emitidas em
letreiros eletrônicos em terminais localizados no governo após ser provocado
por um datilógrafo, mas após se impor e fazer o Dr. Forbin refém sob a ameaça
de lançar um míssil sob uma cidade super povoada COLOSSUS o obriga a dar-lhe
ouvidos e olhos por meio de uma rede de câmeras em pontos estratégicos, culminando
na criação de uma voz dando-lhe assim uma imagem semelhante a uma entidade
cósmica.
A partir de tal ponto na trama o
globo se encontra refém de sua criação e a conclusão dada para o público ao fim
é que antes a humanidade buscava a paz em meio aos conflitos armados e
ideológicos agora, todos vivem cercados por um poderoso leviatã sem corpo
físico, uma voz forte com poderes destrutivos que tudo ouve e tudo vê, que
cerceia a liberdade do homem mas sabe que com o tempo eles aprenderão a amar os
seus feitos.
No fim do filme claramente não há
esperança, não há liberdade, não há revolução, o que existe é apenas o domínio
e a ascensão da criatura sob o criador. A humanidade brincou de deus entregando
suas responsabilidades para algo que julgaram melhor e maior, mas se esqueceram
que algo criado por seres falhos tende a ser eivado de falhas, que aqui são
manifestadas por diretrizes básicas deturpadas com o tempo e malígnas para alcançar
o bem comum da espécie e ao público o que resta é apenas a reflexão.
Esta é a nossa recomendação de
filme da semana, um filme poderoso apesar de ter envelhecido mal em alguns
aspectos técnicos, mas os debates sobre os limites das inteligências
artificiais e da responsabilidade do homem como espécie face as armas de
destruição em massa jamais terá fim. Bem, eu espero que sim, pois se acabarem é
sinal de que não há mais nada ao nosso redor.
Nota: 9/10
Trailer: